Wellington Virgolino

Wellington Virgolino
Wellington Virgolino

Wellington Virgolino de Souza
(Recife, Pernambuco, 1929 - idem, 1988)
 

 Pintor, gravador e escultor. Sem educação artística formal,  em 1948, passa a colaborar com o Jornal Pequeno no Recife, com desenhos e charges. Dois anos depois, ingressa, por sugestão do artista e professor Abelardo da Hora (1924-2014), na Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Nesse período desenvolve sua obra madura, em meio à efervescência artística vivida em Recife, na qual a SAMR é decisiva para a consolidação da arte moderna em Pernambuco.

Em 1952, entra para o Ateliê Coletivo, curso livre de artes plásticas, idealizado e encabeçado por Abelardo da Hora, em seu mandato na presidência da SAMR. Como integrante do grupo, faz parte de uma nova geração de artistas pernambucanos, ao lado de artistas como Gilvan Samico (1928-2013), Ionaldo Cavalcanti (1933-2002) e José Claudio (1932). Durante sua participação no Ateliê, complementa sua formação com aulas ministradas por da Hora e pelo contato com artistas como Carybé (1911-1997) e Lula Cardoso Ayres (1910-1987).

A partir de 1950, participa de edições do Salão do Estado de Pernambuco, na categoria pintura. A essas participações em mostras coletivas somam-se outras, como na 6a e 7a Bienais de São Paulo, em 1961 e 1963. Faz sua primeira exposição individual em 1960, na Galeria do Parque, no Recife. É a primeira de muitas outras em estados como, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Em vida, recebe condecorações como a comenda Honra ao Mérito Maçônico (1958), pelo mural A Maçonaria Trabalha. Postumamente é homenageado com o troféu Construtores da Cultura (1995), concedido pelo Conselho Municipal de Cultura de Recife.

Análise da Trajetória
Apesar da inclinação precoce para o desenho e de realizações com gravura na época do ateliê coletivo, é na pintura que Wellington Virgolino de Souza torna-se reconhecido. Nos desenhos e charges publicados pelo Jornal Pequeno já é possível identificar a origem de características que perpassam toda sua obra. Primeiramente, a presença constante do desenho, no trabalho com a linha e no traço nítido que marcam as figuras de sua produção madura. A temática social e o imaginário popular também são centrais em seus trabalhos. De fato, raízes dessas inclinações remontam a crônicas da vida mundana do Recife pré-modernidade, na colaboração com o Jornal Pequeno, até a atuação, entre 1949 e 1959, na Mala Real inglesa, empresa de transportes marítimos, localizada na área portuária do Recife. O trabalho nessa empresa permite-lhe observar os tipos sociais locais que tanto o impressionam.

O contato com o ideário estético cultivado no Ateliê Coletivo faz surgir uma orientação artística abertamente engajada. Com efeito, sua produção durante a década de 1950 é marcada pelo mergulho nas pesquisas de orientação social, introduzidas no grupo por Abelardo da Hora e compartilhadas pelos demais integrantes.  Em 1955, declara ao jornal Evolução: “Não aceito a ideia de um artista divorciado do povo”, “Sou e pretendo ser um pintor popular”. O trabalho dessa época deixa transparecer influências dos muralistas mexicanos, Diego Rivera (1886-1957) e José Clemente Orozco (1883-1949).

A monumentalidade fundada sobre a busca de registro e dignificação visual do povo  típicos do espírito dos muralistas, aparece em mural que realiza, em 1954, para a 2a Conferência Nacional de Trabalhadores Agrícolas. O mesmo espírito se reflete em desenho que retrata o político Luis Carlos Prestes (1898-1990) em comemoração do trigésimo aniversário da Coluna Prestes, na Folha do povo. Traços da estética muralista também marcam uma pintura como Lavadeiras (1957), em que as figuras das duas mulheres, com gestos e expressões exauridas pelo árduo trabalho manual, são traçadas em linhas retas que separam os tons e semitons pasteis de marrom, azul e verde, em planos segmentados.

No início da década de 1960, transformações de atitude e de linguagem levam à fase de maturidade e consagração da obra de Virgolino. No lugar das diretrizes de engajamento do Ateliê Coletivo e da atmosfera pesada de muitas obras do período, surge uma temática menos imbricada com o político. Figuras populares, tipicamente nordestinas, adquirem tom expansivo, ou, nas palavras do crítico Roberto Pontual (1939-1994): “no registro da festa, da harmonia e do lirismo”. O marco da mudança se dá em sua participação na 6a Bienal de Arte de São Paulo com as telas Duas Meninas e Menino com Pássaro, em 1961. Nesse momento o artista chega ao seu estilo decorativo, pautado por ricas padronagens, formas arredondadas e cores vivas. Estilo que começa a se tornar evidente em sua segunda exposição individual, na galeria paulista Astréia, em 1967. Nela, o pintor inicia a fase em que predominam o tema e os motivos relacionados a crianças brincando com flores, como nos quadros Rosalinda Rosalina (1963).

Este último é exemplar do papel decisivo das padronagens florais que atravessam todos os planos do quadro, desde o vestido da moça, passando pelas guirlandas que enfeitam seu corpo, até o fundo sobre o qual a figura se senta. Já a série Pecados Capitais (1977) traz alguns dos temas preferidos do artista, como a Bíblia, os signos do Zodíaco e o circo, núcleos narrativos desenhados com clareza e precisão.

Essa ênfase nos tipos sociais nordestinos leva o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) a ver em Virgolino o “pintor por execelência” da “morenidade brasileira” sem, contudo, permitir rotulá-lo primitivo.

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